Matopiba, a nova ousadia da agricultura brasileira

Matopiba. Nome estranho, pouco conhecido pela maioria dos brasileiros, mas que está impactando a produção de grãos e de algodão do Brasil. O termo denomina a região que reúne áreas do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia (daí o nome), até então sem tradição forte em agricultura. Terras mecanizáveis, de um tipo diferente de cerrado, constituem a mais nova fronteira de intensificação agrícola do Brasil. Lá, agricultores inovadores, com muita coragem enfrentam o desafio de implantar uma agricultura moderna e eficiente, baseada em ciência e tecnologia.

Agricultura que busca mais aumentar a produção por planta do que simplesmente espalhar mais plantas na imensidão. Na safra de 2012/13, a região produziu 15 milhões de toneladas de grãos, em municípios como Balsas (MA), Barreiras (BA), Campos Lindos (TO) e Uruçuí (PI). Projeções indicam que, em 2022/23, a região vai colher 18 milhões de toneladas de grãos. A safra crescerá 22%, enquanto a área plantada aumentará apenas 15%.

A região chama a atenção por seu dinamismo, complexidade e diversidade. Lá convivem a agricultura empresarial, áreas de preservação, agricultura familiar, quilombolas e indígenas. A região tem área maior que a Alemanha e população parecida com a de Curitiba. As perspectivas de escoamento da produção agrícola estão melhorando. Há estradas em construção, a ferrovia Norte-Sul levará as safras a portos do Maranhão e Pará, a Leste-Oeste ligará Figueirópolis (TO) a Ilhéus (BA) e a hidrovia Tocantins-Araguaia deverá reduzir os custos de transporte.

Sua produção será fator de segurança alimentar para o Nordeste, assolado por secas que matam as plantas de sede e os animais de fome. Milho, sorgo e soja são essenciais para manter a produção animal, como ovos, carnes de frango e de suínos e leite. Ganha a região e o Brasil como um todo: desenvolvimento regional mais equilibrado, com geração de mais empregos e renda e menos perdas na pecuária do semiárido.

Matopiba é uma boa notícia. A agricultura floresce e acelera o crescimento de uma  região que era  carente, demandava alimentos e desenvolvimento social. Com maior produção, fazendeiros aumentam sua renda; indústria e comércio crescem mais. Surgem cidades com infraestrutura e empregos, atraindo profissionais como agrônomos, engenheiros, médicos, advogados e professores. Um ciclo social e econômico vigoroso, alimentado pela agropecuária.

A região acelera a dinâmica de expansão da agricultura brasileira em terras por séculos descartadas como área agrícola. Nos cerrados do Centro-Oeste foi preciso que os agricultores pioneiros fossem desbravadores da terra e do conhecimento, para fazer a transição de uma situação de uso da fertilidade e tecnologia escassas, do passado, para o atual convívio com as novas fronteiras do conhecimento.

No Matopiba, a agricultura e os sistemas de produção já nascem intensificados. O custo da terra ainda é relativamente baixo, mas o ambiente oferece limitações que tornam obrigatórios altos investimentos em tecnologia. Além da fertilidade baixa, as temperaturas são elevadas, mesmo à noite, e há muitas áreas degradadas. Programas governamentais de incentivo à irrigação poderão viabilizar duas ou três safras por ano.

É ainda importante lembrar que Matopiba é área complexa, de transição entre os biomas Cerrado e Semiárido. As condições de clima não são iguais às de Goiás ou Mato Grosso.  Alí a ocupação ocorre em áreas antes ociosas ou de baixa utilização, mas com uma visão moderna de produção, com conservação dos recursos naturais. Exige-se uma expansão planejada, a partir de políticas públicas amparadas em largo conhecimento científico.

Pesquisadores e agricultores estão estudando a região para encontrar as melhores alternativas de produção sustentável. Trabalham para criar variedades de plantas bem adaptadas à região, que tenham elevada produtividade e sejam resistentes a doenças e pragas.

É, pois, o momento perfeito para garantir o desenvolvimento com equidade, em que todos ganhem com o progresso da região.  Governantes, pesquisadores e agricultores estão juntos no desafio. É o começo de uma transformação benéfica em um ambiente historicamente carente e sofrido. Ainda vamos ouvir falar muito, e bem, do Matopiba. Guarde esse nome.

Maurício Antônio Lopes
Presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa