A agricultura – também chamada de indústria a céu aberto – é um setor impregnado pela imprevisibilidade. Está sujeita ao clima e sofre as influências do mercado, da ocorrência de pragas e epizootias, do câmbio, da política e das crises em geral. Ser produtor rural ou empresário rural exige obstinada perseverança. É uma missão para os fortes. Somente o bom desempenho da agricultura garante a segurança alimentar, indispensável para a paz social de qualquer nação.
O recém-encerrado ano de 2022 foi repleto de crises, tendo como expoente a guerra Rússia-Ucrânia que, além da tragédia humanitária que representa, perturbou as cadeias internacionais de suprimentos com consequências em todo o planeta. Santa Catarina sentiu os efeitos em face do encarecimento de fertilizantes, defensivos e outros insumos para a agricultura.
O ano que se inicia, infelizmente, não será muito diferente: um conjunto de fatores impactará a agricultura brasileira em 2023. O conflito bélico no leste europeu prossegue sem sinais de trégua; o maior mercado para os nossos produtos agrícolas (a China) desacelerou seu crescimento; Estados Unidos e os países da zona do euro entram em recessão e eventos climáticos extremos ameaçam a produtividade e a produção de alimentos no Brasil e no Mundo.
Diante desse cenário é necessário manter e ampliar as estruturas de apoio ao setor, bem como aperfeiçoar as políticas agrícolas para que o País continue sendo uma potência mundial na produção de alimentos. A sociedade e o Governo parecem, muitas vezes, desconhecer as características e as condições em que opera a agricultura, subdimensionando a importância social e econômica da agricultura.
O fato é que o agronegócio se constitui em uma das maiores e mais dinâmicas locomotivas da economia brasileira. Prova disse é que o valor bruto da produção agropecuária (VBP), que projeta a receita do setor primário dentro da porteira, passou de R$ 1,3 trilhão em 2022. As exportações do agronegócio foram, novamente, responsáveis pelos superávits da balança comercial. O Brasil exportou no ano passado US$ 159,09 bilhões, uma alta de 32% em relação ao ano anterior. Em valores, os produtos exportados pelo agronegócio tiveram um incremento de 22,1% e o volume embarcado cresceu 8,1% em relação a 2021. As vendas externas do agronegócio representaram praticamente a metade (47,6%) das exportações totais do Brasil em 2022. O crescimento dos volumes exportados dos produtos agropecuários foi reforçado pelo aumento da produção da safra de grãos 2021/2022, que alcançou 271,4 milhões de toneladas.
É essencial destacar que essa imensa produção agrícola e pecuária é ambientalmente sustentável, pois o primeiro compromisso do produtor/empresário rural é a preservação dos recursos naturais – fator garantidor da perpetuação do seu negócio.
Essa magnífica contribuição que o agro proporciona ao País justifica todas as políticas, ações e programas de apoio ao desenvolvimento que o setor rural merece. A nova administração federal iniciada em 1º de janeiro – que ainda não anunciou um programa consistente e global – deve ter a compreensão da dimensão, da importância e da complexidade da moderna e avançada agricultura verde-amarela, afastando-se de ideologias deletérias e abraçando a ciência, a pesquisa e a tecnologia.
José Zeferino Pedrozo
Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC)