A escassez hídrica, problema secular que assola grande parte da população do semiárido nordestino, compromete safras agrícolas e força a migração de grandes contingentes humanos em busca de sobrevivência no sul do país ou nas regiões úmidas da Amazônia brasileira. Todavia, a questão da água sópassou a ter grande relevância para a sociedade brasileira a partir do momento em que atingiu grandes conglomerados urbanos, principalmente a cidade São Paulo, ganhando, como consequência, a manchete dos principais meios de comunicação do país.
Aparentemente o Estado do São Paulo não deveria estar enfrentando problema de falta d’água uma vez que se localiza em região temperada úmida, cuja característica fundamental é a existência de certa regularidade pluviométrica com rios perenes de elevadas vazões.
As mudanças climáticas, o acelerado processo de urbanização e, principalmente, um deficiente processo de planejamento estratégico explicam os problemas vivenciados atualmente pelas grandes cidades brasileiras, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
Consumo de água
Entretanto, como a atividade agrícola representa o setor responsável pela maior parte do consumo de água – algo em torno de 70% do volume disponível – tornou-se comum creditar a este setor parcela da responsabilidade por esta crise hídrica. Ou seja, para alguns analistas, a agricultura irrigada passou a ser a principal vilã desta escassez.
A CNA – Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária -, em parceria com as Federações e os Sindicatos dos Produtores Rurais têm promovido diversos debates sobre a questão da água, enfatizando o papel fundamental da irrigação para a produção de alimentos, energia e fibras, sem comprometer, obviamente, o consumo humano, a dessedentação animal e o atendimento ao processo industrial.
O último debate patrocinado pela CNA, e realizado em Brasília no mês de agosto, contou com especialistas do Brasil e do exterior,para discussão de um dos aspectos mais importantes da crise hídrica que é o problema da gestão ou governança da água. Na oportunidade participaram técnicos nacionais e internacionais que falaram sobre como administrar bem os recursos hídricos de forma a atender a todos, sem prejudicar o agronegócio.
Os participantes internacionais representavam áreas do mundo marcados pela escassez de água como Austrália, o Oeste Americano, principalmente a Califórnia,e Israel. Na Austrália a vazão anual do maior rio não alcança um dia de vazão do rio Amazonas. Em Israel há o aproveitamento possível de toda a água da chuva, complementada ainda pela água oriunda do reuso e da dessalinizaçãodo mar. No oeste americano um aqueduto de 2.334km, construído em 1934, leva água do rio Colorado para 7 (sete) estados e mais o México.Enquanto isso no Brasil a construção de 2 (dois) canais para atender o semiárido nordestino,perfazendo 900km,visando a transposição de 1,4% da água do rio São Francisco ainda está em construção após 10 anos de iniciado e consumiu muitos bilhões de reais, não obstante toda a tecnologia hoje disponível.
Uma das características fundamentais desses países é que, não obstante terem a água como um fator escasso, são grandes produtores de agricultura irrigada. Situação bastante diversa do Brasil que tem muita água e pouca irrigação. Destaque-seque a área irrigada no Maranhão não alcança 1% da área irrigada do Brasil, estimada, atualmente, em 5 (cinco) milhões de hectares, para um potencial calculado em 61 (sessenta e um) milhões.
Recentemente o SENAR Nacional e a CNA lançaram o 1° Concurso do Programa de Proteção de Nascentes, com o objetivo de promover a proteção de no mínimo 1.000 (mil) nascentes em 2015, e, assim, ajudar a garantir água de qualidade e suficiente para atender as necessidades do campo, da cidade e da rica biodiversidade brasileira.
O Concurso é destinado às administrações regionais do SENAR e aos Sindicatos dos Produtores Rurais filiados as Federações da Agricultura e Pecuária, que realizarem a proteção de nascentes em seus estados, seguindo os 5 (cinco) passos indicados pelo programa: identificar a nascente, cercar a nascente, limpar a área, controlar a erosão e replantar espécies nativas.
#César Viana – É engenheiro agrônomo, professor aposentado, (UEMA), mestre em Economia Rural e consultor da FAEMA.