O mercado cada vez mais crescente da piscicultura

O peixe continua a ser um dos alimentos mais comercializados a nível mundial, tendo atingido 158 milhões de toneladas em 2012. Esses valores representam ainda um acréscimo de 10 milhões de toneladas a mais do que em 2010,  com perspectivas também de aumento nos próximos anos. Essa discussão tornou-se relevante na II Conferência Internacional sobre Nutrição, organizada pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, (FAO), e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ocorrida em 2014, em Roma.

No entanto, o relatório extraído a partir deste evento, na Itália,  adverte que, para que este setor continue a crescer de maneira sustentável, é necessário tornar-se menos dependente do peixe selvagem para produzir as rações e introduzir uma maior diversidade de espécies e práticas nas explorações da piscicultura. (FAO, 2014).

Há grandes oportunidades nos mercados regionais já que, neste momento, as economias emergentes como o México, o Brasil, a Indonésia e a Malásia, encontram-se com a exploração em expansão e  procuram promover novos investimentos na produção da piscicultura local, incluindo também, nesse contexto, a África.

De acordo com a FAO, os países em destaque precisam promover os pequenos piscicultores, criando instrumentos  de acesso ao financiamento; seguro:  informações sobre mercados; investimento em infraestrutura; fortalecimento as organizações de produtores e de comerciantes de pequena escala, garantindo que as políticas nacionais não negligenciem ou enfraqueçam o segmento.

Afinidade

Entidades como Embrapa e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), deverão desenvolver projetos, nos próximos anos, com vistas a  melhorar cada vez mais o apoio à piscicultura no país. Neles, serão levantados os custos de produção e caracterizadas as propriedades consideradas típicas, em cada região, em relação a sua afinidade com essa atividade.

Em 2013, a aquicultura brasileira foi incluída pela primeira vez no relatório anual de Produção da Pecuária Municipal (PPM), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os números da criação de peixes apontaram para uma nova realidade da piscicultura, que migrou do Norte, tradicional região de pescados e onde fica a maior bacia hidrográfica do país, para o Centro-Oeste.

A produção brasileira  de peixe explorado em regime de cativeiro, em 2013, foi de 392.500 toneladas, com  o valor de produção estimado em 2,02 bilhões de reais, distribuída nas regiões: Centro Oeste com 26,8% da produção nacional, Sul com 22,4%, Nordeste com 19,5%, Norte com 18,6% e Sudeste com 12,8%. Os principais estados produtores são: Mato Grosso 19,3%, Paraná 13%, Ceará 7,8%, São Paulo 6,8%, Rondônia 6,4%. O Maranhão ocupa nesse cenário o 9º lugar (4,2%), sendo a produção de aproximadamente 17mil toneladas.

Entre as espécies cultivadas no Brasil, a tilápia caiu no gosto popular e recebeu o nome de saint peter. Ela representa 41% da piscicultura nacional graças a sua fácil adaptação a vários ambientes. No primeiro ano desse estudo, o valor da produção da aquicultura foi estimado em R$ 3,055 bilhões, onde a piscicultura representa 66,1% do total, seguida pela carcinicultura (cultivo de camarão), com 25%.

As principais espécies cultivadas são: tilápias 169,3t (41%), tambaqui 88,7t (22,6%), tambacu e tambatinga 60,4t (14,5t), pintado, cachara, cachapira, pintachara e surubim 18,8t (6,3%), carpa 5,7t (5%) e outros 10,6%.

O consumo de peixe per capita no Brasil  é de 18,8kg por habitante/ano.  A média mundial  é acima da brasileira em mais 14,5kg/habitante/ano. Doze quilos de peixe por habitante/ano é o recomendado pela OMS.

Estudo realizado pelo Rabobank mostra que a aquicultura pode ser, na próxima década, a nova fronteira de proteína animal no Brasil. Na pesquisa, os dados mostram que a produção de peixe em cativeiro poderá alcançar 960 mil toneladas em 2022 – o dobro em relação as 479 mil toneladas registradas em  2010.

Mais Produção

Ao adquirir o pescado oriundo da piscicultura (criação em cativeiro),  o consumidor além de apoiar produtores rurais da região, não corre o risco de intoxicação, pois a qualidade ecológica da água é constantemente monitorada, os peixes de piscicultura possuem exatamente os mesmos nutrientes essenciais – proteína, hidratados de carbono, gorduras, vitaminas e minerais – que o peixe capturado no rio ou no mar.

“O que pode variar é a quantidade dos nutrientes, e isso depende da alimentação. Os peixes criados em cativeiro comem rações especiais, enquanto os que vivem em ambientes naturais têm alimentação à base de algas, plânctons e outras espécies pequenas”, explica Daniela Castellani, pesquisadora do Instituto de Pesca.(Globo Rural de 01 de Abril de 2015).

No Maranhão, trabalhos de parceiros como SENAR-MA e o Governo do Estado por meio da Sagrima no programa “Mais Produção”, visam resolver gargalos da cadeia produtiva com a transferência de tecnologias, organização dos produtores e manejos técnicos fundamentais, além do melhor gerenciamento das propriedades.

A atividade da piscicultura é a  que mais exige  cursos de formação de produtores rurais no SENAR-MA, já por dois anos consecutivos. Com demandas constantemente crescente, a piscicultura é a atividade de maior impacto socioeconômico na vida do produtor rural nos dias atuais, com retorno econômico que varia entre 35% a 60%.

As pisciculturas existentes variam muito no sistema de produção, uso de tecnologias e uma série de outros fatores que vão influenciar no valor final do produto. Com uma agricultura rica se  favorece a formulação de rações a custos mais baixos, que correspondem de 70% a 80% dos custos da produção de peixe.

 

*Raifran de Carvalho Pontes – é biólogo, mestrando em Olericultura,  consultor  do SEBRAE e instrutor  do SENAR-MA.