O aquecimento no agro

Os impactos da saída dos EUA do Acordo do Clima de Paris

Estados Unidos fora do Acordo do Clima de Paris, assinado em 2015 por 195 países, para combater as mudanças climáticas no planeta. Está fora a maior economia do mundo, a segunda maior emissora de gases de efeito estufa, cujo compromisso era reduzir 25% de suas emissões até 2025.¹ Sem isso, a meta de aquecimento global estabelecida no Acordo, para o final do século,² pode ser em tese afetada.

Jogo de cena do midiático Trump? Talvez, pois com a decisão ele deu retorno a seus eleitores, mas deixou fresta para mudar de opinião, falando em renegociação, como é do seu estilo. Um lance que de imediato provocou uma eco polarização global, com importantes signatários do Acordo, capitaneados pelos líderes políticos da Alemanha, China e França, retrucando que não haverá mudanças nos termos do pacto.

A polarização também ocorreu nos EUA. Por exemplo: governadores da Califórnia, New York e Washington, estados que representam 24% do PIB e 11% das emissões do país, já anunciaram que perseguirão os objetivos do Acordo. A eles soma-se o desacordo de grandes corporações, que vêm risco de desestímulo aos investimentos em energia limpa e renovável, abrindo caminho para que os europeus e a China avancem forte nesse setor, visto como uma nova frente de revolução tecnológica.

Estamos falando de marcas de peso como General Eletric, Exxon Mobil, Dow Chemical, Apple, Walmart e Godman Sachs, entre outras. Mais de 1.000 empresas e cerca de 300 investidores globais com atitude crítica diante da decisão, por seu potencial de retrocesso para o meio ambiente, para a competitividade tecnológica e até para a liderança dos EUA, já que pode ser percebida como abandono a uma tradição de comandar as grandes transformações mundiais.

Pelo Acordo, cabia aos EUA aportar US$ 3 bilhões até 2020, dos quais liberou só US$ 1 bilhão. Fala-se agora no realinhamento entre Europa e China, para liderar a transição para uma economia de baixo carbono. Nessa linha, a União Europeia estaria tratando com os chineses recursos para o mercado de créditos de carbono, de fomento ao uso de carros elétricos e da rotulagem de produtos com dados de eficiência energética, visando estimular a eco consciência nas decisões de consumo.

Em nota de governo, o Brasil condenou a saída dos EUA, o que se alinha ao nosso envolvimento na causa ambiental global, desde a Eco 92 (Rio de Janeiro) até o posicionamento brasileiro no Acordo de Paris, com promessa de reduzir 37% de nossas emissões até 2025 e 43% até 2030.¹ Muito embora tais objetivos enfrentem alguma turbulência no momento, dado o aumento de desmatamento nos dois últimos anos. Será apenas um ponto de inflexão passageiro?

A política externa do país vê no combate às mudanças climáticas um processo irreversível e um caminho fértil para o desenvolvimento sustentável. Assim, a mobilização mundial pelo Acordo é alentadora, pois reforça o papel da ciência para o entendimento e a mitigação do aquecimento global. Vale lembrar que a expertise construída pelo Brasil em bioenergia torna as energias limpas e renováveis uma grande oportunidade para o agro brasileiro.

Coriolano Xavier  é Vice-Presidente de Comunicação do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), Professor do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM.