Amealhando algum lucro na safra de grãos 2014/15

A situação por que passa a economia brasileira com altas taxas de juros e uma valorização crescente e quase diária do dólar, tem causado reflexos importantes no comportamento do setor produtivo rural, particularmente no Estado do Maranhão.

São muitos produtores rurais que dependem do câmbio para definir sua capacidade produtiva anual e, por conta disso, tomar o posicionamento de negociar recursos financeiros de custeio com os bancos da rede pública, ou na maioria das vezes, com as tradings. São em geral recursos complementares e indispensáveis para implantar suas áreas de cultivo, especialmente da soja, que em conformidade como perfil climático do Estado, dita o ciclo da safra de grãos em regime de sequeiro.

Ao longo dos anos, a situação tem sido recorrente no Estado, pois geralmente os recursos do crédito rural operacionalizados pelos agentes oficiais para financiar a produção agrícola, têm certo limite, e, via de regra, deixa boa parte dos médios e grandes produtores rurais alijados do processo.

Os resultados das safras agrícolas quase sempre são reflexos dos níveis de precipitações pluviométricas ocorridas no período das chuvas e do volume de recursos aplicados pelo governo federal na forma de financiamentos de custeio, via crédito rural. E aí fica evidente o significado da participação do governo na injeção de recursos na safra, pois quanto maior é o volume de recursos aplicados, maior será a probabilidade de se obter valores mais significativos nos índices de crescimento da produção.

Um bom exemplo dessa premissa foram os resultados alcançados com a safra de grãos atual do Estado (2014/15) em relação à do ano passado, que cresceu mais de 6%.

Conforme os dados do Plano Safra 2014/2015, o governo disponibilizou recursos para custeio agrícola da ordem de R$ 136 milhões, e teve como resposta positiva da classe empresarial rural do Estado, a produção de mais de 2 milhões de toneladas de grãos. Quando analisadas as particularidades do Maranhão com referência ao perfil nacional das safras de grãos, identificamos que alguns fatores, quase sempre presentes, como os freqüentes veranicos, pragas e dificuldades para obtenção de crédito, deixam parte do segmento produtivo desmotivado ou ainda fragilizado, a mercê dos intermediários (tradings) para obter financiamentos a custos mais elevados.

Não obstante a presença constante dessas variáveis desanimadoras as avaliações holísticas da safra de grãos 2014/15 indicam que o produtor pode dispor de um lucro mais significativo que o obtido na safra anterior, motivado pelos preços reais praticados, de 5% a mais, em média, e o mercado consumidor externo que, mesmo não estando tão promissor, criou espaços importantes para absorver as exportações maranhenses.

Para a próxima safra (2015/16), no entanto, as perspectivas não são tanto animadoras. Vislumbra-se um cenário pouco favorável, a partir da oferta de recursos para financiamentos por parte do governo federal, que vem a todo custo tentando equilibrar a balança comercial brasileira e arcando com muitas dificuldades para manter a política cambial sem prejuízos no crescimento dos índices inflacionários que, conforme boa parte dos economistas deve chegar ao final de 2015 à casa dos dois dígitos.

Mesmo com a valorização da moeda americana e a volatização dos preços de mercado da soja que vem sendo guiado pelas incertezas na política fiscal do governo, o produtor ainda se encontra preocupado e reticente com as variáveis que vem acontecendo na trajetória do câmbio, já que grande parte dos insumos (sementes, adubos e corretivos) foi adquirida com o dólar em alta. Desta forma a expectativa do produtor é que se mantenha alta a valorização do dólar de forma a assegurar um retorno seguro dos seus investimentos. Caso contrário deve se esvair pelo ralo, boa parte de sua margem de lucro.

Antônio Luiz B. de Figueirêdo é Superintendente do SENAR-MA. É Engenheiro Agrônomo e pós-graduado em Gestão Empresarial, Planejamento Agrícola e Engenharia de Irrigação.